Ano lectivo 2014/2015

 
03 O que é que a família representa para si?


04 O que é que pretende transmitir aos seus filhos?


05 Em que medida ter educação, e saber ler e escrever é importante?


06 O que aprendeu com os seus pais?


07 As suas condições de vida são melhores do que as dos seus pais?


08 O que considera difícil de dizer aos seus filhos? À sua família?


09 Qual é a sua maior alegria?


10 Qual é o seu maior medo? O que é que mais o assusta?


11 O que é que mais o irrita?


12 O que sonhava em criança?


13 Qual é o seu maior sonho hoje?


14 Renunciou a quê?


15 É feliz? O que é para si a felicidade?


16 O que gostaria de mudar na sua vida?


17 O que é para si o amor? Considera que dá e recebe amor suficiente?


18 Qual foi a última coisa que o fez dar uma gargalhada?


19 Quando foi a última vez que chorou? Porquê?


20 Qual foi a prova mais difícil que teve de enfrentar ao longo da sua vida? O que aprendeu com essa situação?


21 Tem inimigos?



22 O que o levaria a matar alguém?


23 Pelo que estaria disposto a morrer?


24 Perdoa com facilidade? O que não seria capaz de perdoar?


25 Sente-se livre? Da sua vida do dia-a-dia, não conseguiria passar sem o quê?


26 O que viu mudar no seu país?


27 Gosta do seu país? Alguma vez quis sair do seu país?


28 O que significa para si a natureza?


29 Viu a natureza mudar desde a sua infância? E o que faz para preservá-la?


30 A sua vida é afetada pelas alterações climáticas?


31 O que é que o dinheiro representa para si?


32 O que é para si progresso e o que espera dele?


33 Considera que todos os homens são iguais? O mundo é justo?


34 Para si, a vida das mulheres e dos homens é igual?


35 Qual é o maior inimigo do Homem?


36 Qual o melhor amigo do Homem?


37 Porque é que os homens fazem guerras? O que podemos fazer para reduzir o número de guerras?


38 Presta contas da sua vida de todos os dias a um Deus?


39 O que acha que existe depois da morte?


40 Sabe alguma oração? Pode dizê--la?


41 Qual é, para si, o sentido da vida?


42 O que gostaria de dizer ou que questões gostaria de colocar às pessoas que o vão ver?


43 Qual é a sua canção preferida? Cante-a…


44 O que pensa desta entrevista, desta troca? Qual acha que é o seu objetivo?


45 Gostaria de acrescentar alguma coisa em jeito de conclusão?



Foram selecionados os excertos que correspondem aos temas das perguntas da entrevista, ou seja: tanto os professores como alguns alunos foram os repórteres da Biblioteca e da História, pois "entrevistaram" estes escritores do passado e encontraram a resposta para as perguntas nas suas obras.

A coordenadora dos amigos da Biblioteca, Mafalda Carvalho, entrevistou Anne Frank e encontrou no seu Diário as respostas para esta entrevista.

 
 
 
Mafalda Carvalho, aluna do 9º1ª

No âmbito do PIT, foi coordenadora dos Amigos da Biblioteca, colaborando  com esta  Equipa  , na divulgação e organização de algumas atividades .
As suas leituras e pesquisas na Biblioteca foram um valioso contributo  para este Projeto, no tratamento de texto e divulgação à Comunidade.
Trabalhou igualmente alguns dos textos que se seguem:
-um texto de Alice Sturiale, sobre a FAMÍLIA, para o dia da Mãe e um texto sobre o SONHO, de reconhecimento a todos os que lhe deram apoio nesta escola:
- O Céu dentro de ti, de Graça Gonçalves.
 
 
Mafalda Carvalho
Coordenadora dos Amigos da     Biblioteca
 
   Vem à Biblioteca e inscreve-te !        
                                                                                                                                Sim!                          
 
  
                        Amigos da Biblioteca                   
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A nossa repórter da História, coordenadora dos Amigos da Biblioteca, Mafalda Carvalho (9º1ª)  apresenta-nos, numa viagem no tempo e no espaço (Holanda, 1942-1944) , a sua   Entrevista  a  Anne Frank :
                                                               
 
    Qual é o seu maior medo? O que mais a assusta?
 
- Para ser franca, não consigo imaginar como alguém poderia dizer “ eu sou fraco” e continuar assim.
- Se sabemos isso a nosso respeito, porque não lutamos contra, porque não desenvolvemos o caráter?   
- Nunca mais recuarei diante da verdade; pois quanto mais tardamos em dizê-la, mais difícil será para os outros ouvi-la.  Enquanto puderes erguer os olhos, sem medo, saberás que tens um  coração puro.
 
    É feliz? O que é para si a felicidade? 
 
- A beleza continua a existir mesmo na dificuldade (com medo). Se a   procurarmos,  descobriremos cada vez mais felicidade e recuperaremos o equilíbrio.
- Uma pessoa feliz tornará as outras felizes; uma pessoa com coragem e fé nunca morrerá na desgraça.
 
 
O que gostaria de mudar na sua vida?
 
-Adormeço com a ideia tola de querer ser diferente do que sou, ou de  que não sou como queria  ser. 
-É uma maravilha não ter abandonado todos os meus ideais que parecem tão absurdos e pouco práticos. Se me prendo a eles é porque ainda acredito, apesar, de tudo, que as pessoas têm bom coração.
 
Qual foi a prova mas difícil que  na sua vida?
 
- As pessoas com mais idade já têm opiniões formadas sobre todas as coisas e já não vacilam, não hesitam perante as dificuldades da sua vida. A nós, os jovens, custa-nos mantermo-nos firmes nos nossos pareceres, por vivermos numa época em que se mostra o seu lado mais horroroso, em que se duvida da verdade, do direito, de Deus.    
 
O que significa para si a natureza?
 
- Não é em imaginação que fico mais calma e que me encho de esperança quando olho para  o céu, as nuvens, a lua e   as estrelas.
- A natureza torna-me um ser humilde, torna-me capaz de suportar melhor todos os golpes.
-Saiam, vão para  o campo, aproveitem o sol e tudo o que a natureza tem para oferecer e tentem captar a facilidade que há dentro de nós. Pensem na beleza que  há ao vosso  redor, e sejam  felizes.  
 
       O que é que mais a irrita?
- Gostaria de dizer : acho estranho os adultos discutirem tão facilmente e com tanta frequência sobre coisas tão mesquinhas.
- Até agora eu achava que fazer birra era uma coisa de criança que  superávamos  quando  crescíamos.                       
                                                                                                In:  O Diário de Anne Frank
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      Para todos os que trabalharam comigo do 5º ao 9º ano, dedico este texto


 







           e... MUITO OBRIGADA PELO APOIO DE TODOS!!
 
                                                        MAFALDA CARVALHO– 9º1ª

Partimos, pois, para a luta.
De nosso, só tínhamos o sonho
que, como habitualmente, chamou a coragem.
E a coragem chamou a persistência.
Que não chegou a chamar a dedicação.
Ela, que era fundamental na criação de uma história, de um jogo,
disponibilizou-se de imediato. Habituada a empenhar-se.
Pretendendo tecer, cada dia mais. Melhor.
Sentíamos que as ideias, em relação a esse trabalho, também eram como
pontos de tecedeira.
Ideias - ponto que se fazia.
Às vezes, desfazia.
Quando se refazia, vinha mais segura.
Entretanto, escutávamos, cada vez mais atentamente, outros corações
que iam partilhando o que liam nos  livros e na vida .  
Sempre presente, a esperança que teimava em confiar que acabaríamos
um lugar onde o sonho só pedia para acontecer  .
 Devagarinho, fomos andando, andando…
 Os meses iam passando.
Mas o sonho, não.
Lutávamos cada ez mais, para conseguir alcançar  um sítio  .
E lá continuávamos, passo a passo. Hoje, chegávamos um pedacinho mais longe;  amanhã, também.
Mas, logo nos dias seguintes, os contratempos, obrigavam-nos a recuar, recuar.
No entanto, mal a estrela da esperança, cúmplice, iluminava uma
frestinha do caminho, apressávamo-nos a recomeçar , pequeno passo, a
pequeno passo…
Finalmente, conseguimos alcançar o lugar que tanto desejávamos !
                                                            GRAÇA GONÇALVES, O CÉU DENTRO DE TI 


 
                                                                                                                                     
 
 
DIA DA MÃE
 



Se a minha Mãe me pedisse uma casa para poder descansar,
construía-lhe uma no cimo de uma montanha, ao pé de uma aldeia
muito bonita, mas suficientemente longe para não ouvir
barulho. E construía-a num bosque, para que, de manhã,
ao acordar, ela fosse iluminadacom a luz a passar por
entre as folhas e a entrar pela janelinha ao pé da cama.
No quarto , punha uma cama com um colchão de penas
e cobertas feitas Com as pétalas de todas as flores que a
Natureza criou.
E fazia uma lareira para ela se aquecer quando
estivesse frio e uma mesa cheia de tudo o que ela quisesse.
E, para a minha mãe, arranjava uma sala para ela meter
todos os seus segredos e havia de lá pôr muitos presentes para ela.

Perto de casa, no meio das árvores do bosque, queria que houvesse
uma árvore com um ninho de passarinhos para lhe cantarem
uma canção de embalar para ela adormecer,
e dava-lhe um cavalo com asas para ela poder ir para onde
quisesse.

E como não sei o que mais podia meter na casa dos sonhos,
dava-lhe uma varinha mágica para ela poder satisfazer
todos os seus desejos.
Mãe, numa casa assim, nunca mais digas
que estás cansada.


Alice Sturiale O LIVRO DE ALICE
Verão de 1991


 


PERGUNTA 20
QUAL FOI A PROVA MAIS DIFICIL QUE TEVE DE ENFRENTAR AO LONGO DA VIDA? O QUE APRENDEU COM ESSA SITUAÇÃO?

Handicap

Se calhar sem as quatro rodas
é mais fácil ...

é mais fácildivertirmo-nos.

É mais fácil divertirmo-nos,


é mais fácil ,
é também mais fácil

conquistar os rapazes.
Mas eu acho
que as quatro rodas
servem para conhecer
totalmente
a vida
e para saber enfrentá-la
e vencer.


InO livro de Alice
De Alice Sturiale

 

 
  


«QUERO ESTUDAR»

Temos uma semana de férias. A minha mãe chama-me à parte:

-Minha filha, tenho uma coisa para te dizer. Respondo-lhe: -Mamã, se tens alguma coisa para me dizer, diz! Não deves guardá-la para ti…

Mas as suas primeiras palavras aniquilaram-me: - Receio que seja a última vez que vais a escola.

Abro muito os olhos, encaro-a e pergunto-lhe: Como podes dizer tal coisa? Hoje em dia, não se pode viver sem estudar. Até mesmo um camponês precisa de conhecimentos para cultivar a terra; caso contrário, não colhe.

A minha mãe insiste: - Tu e os teus amigos são três a ir à escola.

Só o vosso pai trabalha, e longe. Não é o suficiente.

Pergunto-lhe, com o coração despedaçado: - Significa isso que terei de voltar para casa?

- Sim- responde-me ela.

- E os meus dois irmãos?

- Os teus dois irmãos poderão prosseguir os estudos.

Insurjo-me: - Por que podem os rapazes estudar e as raparigas não?

A minha mãe esboça um sorriso cansado: - Ainda és muito nova... Quando fores crescida, compreenderás.

Este ano, não há mais dinheiro para a escola. Estou de regresso a casa e cultivo a terra, para subsidiar os estudos dos meus dois irmãos mais novos. Quando penso nos risos da escola, sinto quase a impressão de ainda lá andar. Como desejo estudar! Mas a minha família não tem dinheiro.

Quero estudar, mamã, não quero voltar para casa! Se pudesse continuar eternamente na escola, seria magnífico!

(Diário de Ma yan)




                                               
Sábado, 15 de setembro. O dia está escuro.

Começa hoje o fim de semana. Eu e o meu irmão retomamos a interminável caminhada. Da estrada, avistamos os campos de melancias. Temos muita fome. O meu irmão vai apanhar, aos campos dos outros, cebolinho e alguns nabos, e comemo-los. Sei que não devemos roubar, que um estudante não deve cometer tais atos. Mas o que havemos de fazer? Se não roubarmos o que encontramos cultivado na terra dos outros , não conseguiremos caminhar até casa.

Avanço lentamente, doem-me muito as pernas. Creio que sou a mais infeliz, a mais lamentável das raparigas deste mundo.

Penso de novo na minha mãe. Não sei como tem passado. Levanta-se às cinco e meia da manhã. Trabalha até às sete horas da tarde. Todos os dias, a minha mãe e as outras mulheres que foram apanhar fa cai caminham de rosto voltado para o sol, de costas para o céu. A quantos montes têm de trepar? A minha mãe é a mais triste e a mais infeliz de todas as mulheres do mundo. Tenho de estudar muito para que ela viva alegremente a segunda metade da sua vida, para que alcance finalmente a felicidade!

 O Diário de Mayan     -     O livro do ano



                                                                                                                                                                                                                                                                                                                            
 


Considera que todos os homens são iguais? O mundo é justo?
 
Um dia a minha mãe e Maria estavam  a  conversar acerca de uma operação milagrosa e improvável que devolvia o ouvido aos surdos. Estavam a falar de mim, interrogando-se se eu estaria na disposição de a fazer.

“- Maria, porque é que dizes não em nome dela? Não sabes se concordaria.”

“- Sinceramente ficava espantada! Conheço a minha irmã como a palma das minhas mãos. Tenho a  certeza de que recusa”.

Falaram acerca do assunto durante uns momentos e depois fizeram uma aposta. Maria veio explicar-me o debate muito explicitada, certa de ter razão.

E tinha. Mais uma vez tinha razão.

Maria conhece-me profundamente, melhor do que ninguém. E acerca daquele assunto podia de facto responder em meu nome.      

Somos uma minoria os surdos profundos de nascença. Com uma cultura específica e uma língua específica. Os médicos, os investigadores, todos os que querem transformar-nos a qualquer preço em ouvintes põem-me os cabelos em pé. Fazerem-nos ouvintes é aniquilar a nossa identidade. Querer que à nascença deixe de haver crianças “surdas”  é desejar  um mundo perfeito.  Como se quiséssemos que fossem todos louros, com olhos azuis, etc.

Então deixava de haver negros, pessoas duras de ouvido?

Por que não se há-de aceitar a imperfeição alheia? Toda a gente tem qualquer coisa de imperfeito. Em relação a vocês, a Emmanuelle é imperfeita.

Os outros ouvem, eu não. Mas tenho olhos, que forçosamente observam melhor do que os deles. Tenho as minhas mãos que falam. Um cérebro que armazena as informações à minha maneira, segundo as minhas necessidades.

Não vou considerá-los imperfeitos a  vocês, que ouvem. Aliás, nunca me permitiria fazê-lo. Pelo contrário, só desejo a união entre as duas comunidades, com respeito mútuo. Eu dou-vos o meu, dêem-me o vosso.





                                                        O Grito da Gaivota    Emmanuelle Laborit  
                                                                                                                                                                       
                    

O que é que a família representa para si?

  Kino ouviu o ranger da corda quando Juana retirou Coyotito do caixote suspenso, o lavou e o embrulhou no seu xaile, atando-o bem aconchegado ao peito. Kino podia ver todas estas coisas sem olhar para ela. Juana cantarolava uma canção antiga que tinha apenas três notas, mas uma infinita variedade de intervalos. E aquilo também fazia parte da Canção da Família. Tudo fazia parte dela. Por vezes crescia num tom que fazia doer e embargava a garganta, dizendo-lhe que aquilo era segurança, aquilo era calor, aquilo era Tudo.

 

 


 









John Steinbeck
Sobre Kino, protagonista de A Pérola

  


                                                                                                                                                    

O LIVRO DE ALICE de ALICE STURIACLE

 NATUREZA (pergunta 28)

Não havia ninguém ao pé de mim, reinava um silêncio total. Então, voltei-me para mim mesma, reflecti, deliciei-me com a Natureza, pensei que estava fora do mundo e, por uns instantes, senti uma verdadeira felicidade, e estava serena.

Nestas situações, a solidão é uma coisa fantástica porque é o único momento em que podemos ver dentro de nós e observar-nos a fundo, observar-nos bem.

Em casa, é diferente: mesmo se fisicamente não há ninguém perto, está-se num ambiente conhecido: os nossos brinquedos, os nossos passatempos. Quer dizer, nem sempre quando estamos sós nos sentimos sós.

O outro tipo de solidão, aquele que é terrível e nos faz sentir mal é uma coisa muito diferente, diria até que é o oposto, exceto numa coisa: estamos sós.

Podemos sentir isso mesmo no meio da multidão, com mil pessoas à volta: é quando não conhecemos ninguém, não podemos comunicar com ninguém e não nos sentimos amados e dentro da situação: é como se fossemos fantasmas; existimos, mas não podemos ser vistos nem ouvidos. E desejamos estar em casa, com os amigos ou sem os amigos, ou voltarmo-nos para nós mesmos, como já fizermos noutras vezes, sem tanta confusão.

Senti isso muitas vezes, e é horrível.

Quando temos saudades de uma pessoa querida, sentimo-nos um pouco vazios por dentro.
                                                                                                                                                        
 

Qual é, para si, o sentido da vida?

  
- Quer dizer para que servimos.
- Frida, sabes dizer-nos como se confere sentido à existência?
- Não sei, por’zemplo se acreditarmos em Deus e tudo.

- Bem, está certo. As pessoas que acreditam em Deus, é uma maneira de conferir sentido à existência. E as que não acreditam, como procedem?

- O sentido também é ajudar os outros.
- Sim, é isso, está bem. Por exemplo, podemos tornar-nos úteis por meio daquilo que se chama empenhamento humanitário, coisas assim. Ou então como?

- Ensinar-lhes coisas.
- Então a vida de um professor tem sentido?
- Oh sim, porque ele tem uma missão e tudo.

                                                                                                                                                               

O SENTIDO DA VIDA

Mas Carlos queria realmente saber se, no fundo, eram mais felizes esses que se dirigiam só pela razão, não se desviando nunca dela, torturando-se para se manter na sua linha inflexível, secos, hirtos, lógicos, sem emoção até ao fim…

-Creio que não - disse o Ega. - Por fora, à vista, são desconsoladores. E por dentro, para eles mesmos, são talvez desconsolados. O que prova que neste mundo ou tem de se ser insensato ou sem sabor…

- Resumo: não vale a pena viver…

- Depende inteiramente do estômago! - atalhou Ega.Riram ambos.

Depois Carlos, outra vez sério, deu a sua teoria da vida, a teoria definitiva que ele deduzira da experiência e que agora o governava. Era o fatalismo muçulmano. Nada desejar e nada recear… Não se abandonar a uma esperança - nem a um desapontamento. Tudo aceitar, o que vem e o que foge, com a tranquilidade com que se acolhem as naturais mudanças de dias agrestes e de dias suaves. E, nesta placidez, deixar esse pedaço de matéria organizada que se chama o Eu ir-se deteriorando e decompondo até reentrar e se perder no infinito Universo… Sobretudo não ter apetites. E, mais que tudo, não ter contrariedades.        Eça de Queiroz             OS MAIAS

                                                                                                                                                               




O SENTIDO DA VIDA (pergunta 41)

 

Na minha opinião, a mensagem do livro é esta: temos de tentar ver realisticamente a vida, com as suas qualidades e os seus defeitos, e temos de reconhecer que ela nem sempre é aquele mundo maravilhoso feito de jogos como um miúdo pode pensar.                                                                                          

                                                             Alice Sturiale                              O LIVRO DE ALICE
 
                                                                                                                                                                 

Quando foi a última vez que chorou? Porquê?

Falco tinha sempre o cabelo espetado e vinha um barbeiro a casa todas as semanas para o aparar. Uma vez o barbeiro também cortou o cabelo de Lourença e, quando acabou, fez com que ela se visse no grande espelho da sala de jantar. Pegou nela ao colo e apontou para o espelho.

- Parece um rapazinho – disse ele.

Isto afligiu tanto Lourença que começou a chorar. Chorava tanto que acudiu toda a gente da casa. Uns riam-se, outros tratavam de a consolar; mas Lourença estava desesperada. Acreditava que estava mudada em rapaz e que perdera os braços, as pernas, a cara de menina. Era um grande desastre, e não se podia conformar. Um rapaz era completamente outra coisa: davam fortes dentadas no pão e andavam sempre esmurrados.

Agustina Bessa-Luís
Sobre Lourença, protagonista de Dentes de Rato

 

 

Qual foi a última coisa que o fez dar uma gargalhada?

 

«Tenho de ir para casa», pensava ele, mas não lhe apetecia nada ir-se embora. E, enquanto assim estava deitado, com a cara encostada às algas, aconteceu de repente uma coisa extraordinária: ouviu uma gargalhada muito esquisita, parecia um pouco uma gargalhada de ópera dada por uma voz de «baixo»; depois ouviu uma segunda gargalhada ainda mais esquisita, uma gargalhada pequenina, seca, que parecia uma tosse; em seguida uma terceira gargalhada, que era como se alguém dentro de água fizesse «glu, glu». Mas o mais extraordinário de tudo foi a quarta gargalhada: era como uma gargalhada humana, mas muito mais pequenina, muito mais fina e muito mais clara. Ele nunca tinha ouvido uma voz tão clara: era como se a água ou o vidro se rissem.

Com muito cuidado para não fazer barulho levantou-se e pôs-se a espreitar escondido entre duas pedras. E viu um grande polvo a rir, um caranguejo a rir, um peixe a rir e uma menina muito pequenina a rir também. A menina, que devia medir um palmo de altura, tinha cabelos verdes, olhos roxos e um vestido feito de algas encarnadas. E estavam os quatro numa poça de água muito limpa e transparente toda rodeada de anémonas. E nadavam e riam.

- Oh! Oh! Oh! - ria o polvo.

- Que! Que! Que! - ria o caranguejo.

- Glu! Glu! Glu! - ria o peixe.

- Ah! Ah! Ah! - ria a menina.

Sophia de Mello Breyner Andresen
Sobre o rapazinho, a menina, o polvo, o caranguejo e o peixe, personagens de A menina do mar

 


                                                                                                                                                              


O VALOR DA AMIZADE

Antes de tudo, aprendi a importância de ter verdadeiros amigos: os amigos ajudaram-me tanto! Davam-me força, coragem, animavam-me, e isso é muito importante porque, quando estamos em apuros, não podemos dar-nos ao luxo de ficar deprimidos; seria demasiado triste, seria cansativo recuperar as forças: também foi nesses meses tão maus que tive oportunidade de aprender isso. O que me fazia sentir outra vez feliz era apenas um sorriso, uma palavra de ternura, um conselho de amigo, uma pancadinha nas costas, uma conversa.

                                                                                                O LIVRO DE ALICE
                                                                                                                                                             

POBREZA (pergunta 31)

Foi uma ceia tão triste que nem dava vontade de pensar. Todo mundo comeu em silêncio e Papai só provou um pouco de rabanada. Não quisera fazer a barba nem nada. Nem foram à Missa do Galo. O pior era que ninguém falava nada com ninguém. Parecia mais o velório do Menino Jesus do que o nascimento.

Papai pegou o chapéu e saiu. Saiu mesmo de tamancos, sem dar até logo nem desejar felicidades. Acho que foi por isso que não deu boas-festas. Dindinha tirou o lencinho e limpou os olhos e pediu para ir embora com Tio Edmundo. Tio Edmundo botou uma pratinha de quinhentos réis na minha mão e outra na mão de Totoca. Talvez ele quisesse dar mais e não tinha. Talvez ele quisesse em vez de dar pra gente, estar dando para os seus filhos lá na cidade. Foi por isso que eu o abracei.Talvez o único abraço da noite de festas. Ninguém se abraçou ou quis dizer nada de bom. Mamãe foi para o quarto. Garanto que ela estava chorando escondido. E todos estavam com vontade de fazer o mesmo. Lalá foi deixar Tio Edmundo e Dindinha no portão e comentou quando eles se afastaram andando devagarzinho, devagarzinho.
 
JOSÉ MAURO DE VASCONCELOS, O MEU PÉ DE LARANJA LIMA

                                                                                                                                                                                 

               A sua vida é afetada pelas alterações climáticas?
Kengah estendeu as asas para levantar voo, mas a espessa onda foi mais rápida e cobriu-a inteiramente. Quando veio ao de cima, a luz do dia havia desaparecido e, depois de sacudir a cabeça energicamente, compreendeu que a maldição dos mares lhe obscurecia a visão.
Kengah, a gaivota de penas cor de prata, mergulhou várias vezes a cabeça, até que uns clarões lhe chegaram às pupilas cobertas de petróleo. A mancha viscosa, a peste negra, colava-lhe as asas ao corpo, e por isso começou a mexer as patas na esperança de nadar rapidamente e sair do centro da maré negra.
Com todos os músculos contraídos pelo esforço, chegou por fim ao limite da mancha de petróleo e ao fresco contacto com a água limpa. Quando, de tanto pestanejar e mergulhar a cabeça, conseguiu limpar os olhos, olhou para o céu e não viu mais que algumas nuvens que se interpunham entre o mar e a imensidade da abóbada celeste. As suas companheiras do bando do Farol da Areia Vermelha já voariam longe, muito longe.
Era a lei. Também ela vira outras gaivotas surpreendidas pelas mortíferas marés negras e, apesar da vontade de descer para lhes oferecer um auxílio tão inútil como impossível, afastara-se, respeitando a lei que proíbe presenciar a morte das companheiras.
De asas imobilizadas, coladas ao corpo, as gaivotas eram presas fáceis para os grandes peixes, morriam lentamente, asfixiadas pelo petróleo que, metendo-se entre as penas, lhes tapava os poros.
Era essa a sorte que a esperava, e desejou desaparecer depressa entre as fauces de um grande peixe.
                                              Sobre a gaivota Kengah, que foi apanhada por uma maré negra,
                          na obra História de uma gaivota e do gato que a ensinou a voar Luis Sepúlveda                                                                                             


                                                                                                                                                  






 
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